[manifestações de apoio] e [outras reflexões e materiais] Sobre o escracho, a denuncia o privado e o publico ! de Lia Vainer Schucman

Nestes últimos dias o debate  sobre intolerância, vem a tona : acontecimento como o assassinato da menina  homossexual de 16 anos no mato grosso,  o seqüestro seguido de um tiro na perna, pelo ex marido em João pessoa,  de uma mulher que quis se separar. O caso do Bolsonaro. Porrada em homossexual na paulista, mulheres que aumentam o índice de AIDS alarmantemente por serem enganadas pelos maridos.   demonstram como  questões ditas de “opinião pessoal”  ou “ privadas” causam grandes mal estares  públicos e de seres humanos: E por isto escrevo para argumentar porque o escracho é sim um ato político e que merece apoio daqueles que lutam por um mundo melhor !

Maria sofre racismo e acha que é a  culpada, afinal é ela que nao tem cabelo lisos ! Joana sofre  com os abusos machistas e acha que é porque é ela que não é a mulher perfeita, por isto seu “amor” lhe  ofende, lhe bate… Afinal se ela fosse “melhor”  nao estaria passando por isto ! Fernando é expulso de casa, leva porrada na rua, nao  é mais recebido pela família, e  acha que ele fez algo de errado para nao ser mais aceito ! Errado ? gostar de outro homem ? Camila  tem a casa destruída pelo ex namorado e quando denuncia é acusada de alguém que quer vingança pessoal !! ou de tornar publico algo privado.  O cara chama preto de vagabundo e diz que é opinião pessoal !!  E que ninguém tem  nada a ver com isto !O ditado diz : em briga de marido e mulher ninguém mete a colher !!

E assim o racismo e o machismo se perpetuam  de forma tão natural  como uma arvore cresce no jardim !    Como disse Elie Wiesel, o carrasco mata sempre duas vezes. A segunda mata pelo silêncio.”  E aqui podemos pensar que o silencio pode também ser a negação, ou a desligitimaçao da dor alheia com justificativas do tipo : foi só uma piada, mas no fundo nao tenho nada contra negros. Ou ela apanhou, mas tava de mini –saia. O que eu fiz foi só uma briga de fim de relacionamento, mas quando  a gente ta bem eu não bato nela- O Clássico Mas Ele diz que me ama !

De verdade, cansei de explicar que o privado é sim político, e que assim como deputados corruptos devem ser denunciados, situações sexistas e racistas privadas também devem !   Em uma entrevista chamada para mudar a vida,  perguntaram a Agnes Heller o que ela achava do slogan o privado é político cunhado pelo movimento das mulheres nos anos 70. E ela respondeu :

“ a vida privada é uma instância social. Questão social significa questão publica, nao no sentido de que a vida privada do individuo deva ser uma questão publica (fim da privacidade), mas no sentido de que modelos da vida privada devem ser considerados objeto de interesse comum, o que significa que uma mudança  de tais modelos deve ser muito importante e não uma questão secundaria no processo de transformação geral. É motivo  de orgulho para o movimento feminista ter levantado esta questão, que pode ser também pensado para outras esferas do privado e político” (Heller 82,pag 145)

Neste sentido, cabe ressaltar , que nenhuma mudança social pode realmente acontecer enquanto  o sexismo e o racismo prevalecerem, nem uma igualdade é realmente igual em um mundo em que mulheres são tratadas como objeto de prazer, capricho, trabalho, cuidado, ou proteção do homem. Mulheres são sujeitos e não objetos!  Por isto, o argumento que ouvi de muitos homens de esquerda sobre  “o escracho” que o que aconteceu foi briga de fim de relacionamento, ou o que acontece em relacionamentos nao devem virar coisas publicas deve ser radicalmente combatido! Deixar no privado é compactuar com o machismo, e devemos sempre lembrar que como diz Foucault a maior arma do poder é exatamente o poder de ocultar !! DENUNCIE !   Pois denunciar significa levar para o social, pois é exatamente lá no social que sujeitos se apropriam do machismo e do racismo e é lá que deve ser desconstruído !!

Essa carta-reflexão pode ser lida também no blog lia no trampolim .

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