[manifestações de apoio] Carta aberta para o MPL, feministas contra o aumento e afins

De Marina Paiva, militante anarquista que participa de diversas frentes de luta, dentre elas o feminismo riot grrrl/ queer/ anarca. No portal avessa.

Resolvi escrever essa carta aberta a fim de esclarecer minha posição perante o escracho contra violência sexista ocorrido no ato contra o aumento. Por quê? Sou militante de diversas frentes, dentre elas a luta contra as catracas nos ônibus, metrôs, trens e, principalmente, na vida. Já militei no MPL e acabei me afastando por motivos pessoais, no entanto, participo e atuo nas frentes de luta sempre que estou por perto. Agora estou no exterior e tenho acompanhado virtualmente os acontecimentos do Brasil no geral.
Ao saber do escracho ocorrido contra um militante que agrediu uma companheira imediatamente comecei a divulgar pois me senti muito contemplada, já que, no fim de 2009, voltando de um dos atos contra o aumento da passagem, eu sofri violência do meu ex-companheiro, de luta e de vida.

Foi muito traumático para mim e eu estava em um momento da minha vida em que não conseguir tomar atitudes concretas sobre o ocorrido, apenas fiz uma denúncia na delegacia da mulher pois tive o apoio de muitxs amigxs e familiares. Essa pessoa, e acho que agora é o momento de dar nome aos bois, se chama Fernando (Fefê) e é militante anarquista. Pois é, um militante que, ao mesmo tempo que tem muito a contribuir, agride mulheres. Contraditório não? Ele é apenas mais um, mais um que circula por aí como se nada tivesse ocorrido, colocando em risco outras mulheres que possam divergir de suas opiniões sem se calarem. Por que estou falando isso? Por que nunca é tarde para fazer uma denúncia e por que fui questionada por várixs militantes sobre meu apoio à ação. Também por que me arrependo muito de não ter tomado atitudes mais concretas com relação ao ocorrido, apesar de ter feito o que eu tive forças para fazer até então.

Quem estou apoiando e o que estou boicotando? Primeiramente quero dizer que não estou de forma nenhuma tentando promover um boicote ao MPL, mas sim estou tentando promover o empoderamento de outras mulheres, que, assim como eu, se sentiram muito contempladas e mais SEGURAS nos espaços de militância, um espaço predominantemente masculino e muitas vezes sexista. Eu vi que no video lançado há uma referência direta ao MPL como conivente com essa situação. Sei que o MPL não o é, mas sei também que não há o menor preparo das pessoas para lidar com esse tipo de questão, uma vez que, no geral, elas são tratadas como coisas do âmbito privado e torná-las pública causa um mal estar geral, um pudor que deve ser evitado para que as mulheres também parem de sofrer violência. Não acredito que tenha havido conivência, mas sei que teria sido melhor que o Xavier, o Fernando (Fefê), ou qualquer outrx que já agrediu, ficasse em casa, pois essa luta não é delxs, afinal, eu não quero militar com quem me oprime, muito menos ficar ali só para ser mais um número em uma manifestação que não me contempla. Para muitxs essa ação pareceu um boicote ao MPL, inclusive a minha de divulgar o video, mas não é isso. Claro que deveria ter havido uma ação mais efetiva do movimento a fim de evitar esse tipo de problema, mas agora já é tarde demais para todxs. A crítica já foi feita e agora nos resta aprender com o ocorrido.

Aprender o quê? Aprender que nos movimentos sociais existe sexismo SIM e aprender que esse tipo de atitude NÃO SERÁ MAIS TOLERADA. Quanto aos/ às agressorxs cabe a elxs refletirem sobre sua militância e procurarem ajuda, a fim de não causarem mais esse tipo de constrangimento para si e para xs outrxs. Apoio sem hesitar a iniciativa e digo que ela foi muito ousada, algo fácil de se perceber devido à grande repercussão. Força mulheres, sempre! Ao MPL desejo força também, mas sei que saberão se livrar desse tipo de atitude de forma horizontal e eficiente.

saúde y anarquia
mah

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