[panfleto] texto do panfleto distribuído durante escracho a agressor machista

PARA COPIAR-COLAR-DIFUNDIR!

Por um mundo sem catracas e sem violência machista!

Estamos aqui hoje para falar de um assunto que tem nos afetado muito nesses meses de luta contra o aumento: a presença de um agressor de mulheres no centro das mobilizações.

Há cerca de 6 meses um dos militantes do movimento passe livre de São Paulo ameaçou de morte, perseguiu, constrangeu, agrediu verbalmente, insultou e limitou o espaço físico de uma companheira de movimentos sociais autônomos. Esse agressor tem que ser chamado pelo nome: ele se chama Xavier (Rafael Pacchiega).

Fazemos essa denúncia porque esse agressor continua frequentando os mesmos espaços políticos como se não houvesse acontecido nada ou como se aquilo que aconteceu não tivesse relevância política nenhuma. Que as agressões cometidas contra as mulheres sejam vistas como algo de pouca importância infelizmente não nos surpreende. Os movimentos sociais têm muita dificuldade de enfrentar coletivamente e publicamente as violências machistas que acontecem em seu meio. É estranho ver como as bocas daqueles que defendem todo o tempo que tudo é coletivo ou que assim deveria ser, ficam caladas nesse momento por um bizarro pudor. Insistem em tratar essas questões como algo menor diante das “lutas prioritárias” ou como algo pessoal que deve ser resolvido no âmbito privado. Privado nem pensar! As relações pessoais entre homens e mulheres são encarnações concretas do heteropatriarcado, uma estrutura historicamente desigual de opressão que é anterior à existência das catracas e do próprio capitalismo.

Um exemplo banal (ou nada banal) daquilo que estamos falando: por que se indignar diante de uma brutal repressão da polícia, mas silenciar e consequentemente acobertar a violência exercida contra as mulheres? A integridade dos corpos das mulheres não importam? Os corpos das mulheres têm menos valor que os outros? Ou só importam quando estão aglutinados na massa das lutas prioritárias e são invisibilizados na sua condição específica de mulheres?

Alguns podem pensar e dizer que nossa ação desvia a atenção do foco principal do movimento para coisas menos importantes, enfraquecendo a luta, que somos exageradamente radicais, que estamos “demonizando” alguém que cometeu um equívoco… Alguém vai chegar a dizer que somos loucas, histéricas e inclusive agressivas. A denúncia que estamos fazendo nesse momento é parte da reação ao abuso cometido e se constitui como uma ação direta de autodefesa feminista. Queremos denunciar a existência desse tipo de abuso e garantir que os movimentos sociais não sejam espaços de agressão, medo e opressão a nós mulheres e sim espaços de troca, de estabelecimento de relações de confiança, solidariedade e empoderamento de todas e todos nós. E isso deve ser uma tarefa assumida coletivamente. Entretanto, repetidas vezes, esses movimentos que se colocam como antagonistas de todas as opressões, se voltam contra aquel*s que denunciam a violência sem enfrentar efetivamente a discussão.

Não somos as primeiras e nem seremos as últimas a sermos violadas, agredidas, ameaçadas, silenciadas e invisibilizadas por militantes dos movimentos sociais. Mas também não somos as primeiras e não seremos as últimas a denunciar publicamente o acontecido. Estamos fartas de dividir espaços com misóginos que gostam de perseguir repetidamente as mulheres e depois livrar a cara dizendo que estavam surtados, com a ajuda cúmplice daquel*s que o defendem.

Nenhuma agressão ficará sem resposta.

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